- Nossa, tava o maior trânsito! Parece que uma girafa atropelou um cara de bicicleta ou algo do tipo. - Brinco pra descontrair.
- Por isso sou a favor de cnh para os ciclistas… - Ele disse tentando não rir.
- Ei, respeite os ciclistas!
Ele é como a minha casa, tão familiar.
Nós marcamos um desencontro, uma espécie de despedida, algo para encerrarmos o ciclo, um ponto final para substituir essa reticência.
Nunca mais senti por ninguém o que senti por ele durante tanto tempo, aquele amor que chega dói os ossos, aquela admiração. Sinto falta até mesmo dos sentimentos ruins.
- Café? - Ele olhava o cardápio embaixo dos óculos escuros.
- Hmmm… Capuccino? - Respondi enquanto tentava fechar as sandálias sem sucesso.
- Tá difícil aí? Por que não veio de tênis?
- Eu tenho 30, cabelos curtos e uso sandálias, prazer!
- Bons tempos os do jeans e all star…
- Depressão e catfish ainda estão na moda mas não fazem mais meu tipo.
- Aí… Essa doeu! - ele disse soltando o cardápio com um meio riso.
Se eu falar em voz alta e de forma clara que eu nunca conheci a única pessoa que já amei vou conseguir me desprender disso? Talvez se eu não guardar mais em sete chaves e perder essa vergonha eu consiga seguir a diante.
- Esses desencontros me lembram o Clube da Luta.
- Você acha que eu só existo na sua cabeça? - ele parecia confuso, cruzando os braços.
- Eu tenho certeza. - A verdade mais dolorosa é aquela que a gente não queria nunca conhecer.
- Talvez eu seja, mas qual a importância? No final ninguém é de verdade mesmo.
Vez ou outra a gente marca esses desencontros na esperança de destruir o que não sabemos se um dia existiu, mas no final das contas não é o que queremos, nós só queremos reviver um tempo que não volta, um sentimento que não morre e alguém que tão perfeito que nunca existiu.
- Sem açúcar, por favor. - disse para o atendente com orgulho.
- Ah não, isso já é demais pra mim! - ele disse tirando os óculos escuros e ao ver seus olhos nossa conversa mudou de idioma, que saudade conversar com alguém que realmente entende o que você diz.
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