Desencontros

By Jully Andrade - 16:34



Cheguei tropeçando desajeitada nas sandálias que calcei durante o trajeto no uber, como sempre estou atrasada mas você já sabia que isso ia acontecer.

  • Nossa, tava o maior trânsito! Parece que uma girafa atropelou um cara de bicicleta ou algo do tipo. - Brinco pra descontrair.
  • Por isso sou a favor de cnh para os ciclistas… - Ele disse tentando não rir.
  • Ei, respeite os ciclistas!

Ele é como a minha casa, tão familiar.

Nós marcamos um desencontro, uma espécie de despedida, algo para encerrarmos o ciclo, um ponto final para substituir essa reticência. 

Nunca mais senti por ninguém o que senti por ele durante tanto tempo, aquele amor que chega dói os ossos, aquela admiração. Sinto falta até mesmo dos sentimentos ruins.

  • Café? - Ele olhava o cardápio embaixo dos óculos escuros.
  • Hmmm… Capuccino? - Respondi enquanto tentava fechar as sandálias sem sucesso.
  • Tá difícil aí? Por que não veio de tênis?
  • Eu tenho 30, cabelos curtos e uso sandálias, prazer!
  • Bons tempos os do jeans e all star…
  • Depressão e catfish ainda estão na moda mas não fazem mais meu tipo.
  • Aí… Essa doeu! - ele disse soltando o cardápio com um meio riso.

Se eu falar em voz alta e de forma clara que eu nunca conheci a única pessoa que já amei vou conseguir me desprender disso? Talvez se eu não guardar mais em sete chaves e perder essa vergonha eu consiga seguir a diante.

  • Esses desencontros me lembram o Clube da Luta. 
  • Você acha que eu só existo na sua cabeça? - ele parecia confuso, cruzando os braços.
  • Eu tenho certeza. - A verdade mais dolorosa é aquela que a gente não queria nunca conhecer.
  • Talvez eu seja, mas qual a importância? No final ninguém é de verdade mesmo.

Vez ou outra a gente marca esses desencontros na esperança de destruir o que não sabemos se um dia existiu, mas no final das contas não é o que queremos, nós só queremos reviver um tempo que não volta, um sentimento que não morre e alguém que tão perfeito que nunca existiu.

  • Sem açúcar, por favor. - disse para o atendente com orgulho.
  • Ah não, isso já é demais pra mim! - ele disse tirando os óculos escuros e ao ver seus olhos nossa conversa mudou de idioma, que saudade conversar com alguém que realmente entende o que você diz.

  • Compartilhe:

Talvez você goste desses também

0 comentários