Eu sentei onde julguei ser mais confortável e deixei que passassem as pessoas, as coisas, as lembranças, os bons e os maus ventos. Quando a tempestade chegou, eu não tive medo de me molhar ou adoecer, lamentei baixinho quando ela desmatou o meu canteiro de rosas e respirei fundo todas as vezes que ela decidiu ficar.
Dizem por ai que estou triste, que falo demais sobre coisas que desconheço, que a minha presença não vale muito, que estou gorda demais, que estou branca demais, que o meu cabelo não tem uma cor legal, que sou vulgar e até que sou ruim demais para existir.
Foi então que achei certo sentar, tomar um café doce demais e observar o vai e vem das coisas. Tem dias que me sinto oca, que caminho descalço pelo canteiro chorando pelas rosas desmatadas, outros dias semeio-o sem pressa.
Sim, eu deixei passar, sentada e acomodada eu esperei a hora certa de fazer e dizer tudo o que era necessário. Eu cuspo, arranho, pisoteio e humilho, eu não sinto pena da verdade e tenho nojo da realidade. Sou tudo o que dizem e ao mesmo tempo não sou nada do que disseram, por que ninguém entende e eu não quero explicar.
Sentada, embaixo de sol ou chuva, sem rosas ou um belo canteiro, eu sou feliz, por ser eu mesma e sentir o que jamais ninguém sentirá.
O título é baseado na música do Los Hermanos, O Vento. Ela diz mais do que somos capaz de identificar e, para mim, é demasiada importante. Falar sobre o tempo é como contar cicatrizes.