Uma vez alguém me disse que ninguém me conhece 100% e foi como levar uma balde de água fria. Hoje eu vejo o quão superficial eu consigo ser, como um animal que sabe exatamente a hora de alimentar a presa e a hora de comê-la.
Parece grosseiro, eu sei, mas é quando sinto minha garganta seca e um nó em meu coração que percebo o quanto preciso falar, gritar e me mostrar. Eu não falo de verdade com alguém faz anos, porque eu perdi meus companheiros em uma guerra e porque sempre que abro a boca para tentar explicar o que se passa dentro de mim as pessoas não entendem bem.
Eu engulo elogios, grosserias, carícias, eu engulo sapos e nada até então me fez cuspi-los. Nada e nem ninguém nos últimos anos se mostrou suficiente para escutar meus monólogos, talvez os meus antigos companheiros tenham levado um pouco de mim com eles e o que restou foram os 30% que consegui revelar.
Fiz uma promessa de permanecer firme e percebi que o tempo me transformou em um soldado que vive de guarda.